Neste curto espaço entre nós e a morte
tão mal gastamos nossa longa despedida!
Tu, amor de quem não sei o nome
de onde não sei a sorte,
vais passar além deste poema que era teu
e assim, de morte construída,
teus passos vão enchendo a minha vida.
Outro nome será flor sobre teus lábios,
e outros dedos tocarão a límpida frescura
dos teus ombros quase d’água
e saberão de cor o horizonte branco do teu corpo...
E assim iremos de olhos futuros,
tu, envelhecendo da minha ausência,
eu, a erguer-te na curva da esperança,
e outra mão vai desmanchar a tua trança
e hei-de beija teu rosto onde não eras
e serás só o que há antes das horas mais tristes.
Neste curto espaço entre nós e a morte,
onde me vais perdendo,
onde te vou buscando,
nosso amor se vai embora alimentando
a despedida;
não porque morra o tempo em teus braços,
mas a vida.