segunda-feira, maio 29, 2006

o circulo


O círculo é a forma eleita
É ovo, é zero.
É ciclo, é ciência.
Nele se inclui todo o mistério
E toda a sapiência.
É o que está feito,
Perfeito e determinado,
É o que principia
No que está acabado.
A viagem que o meu ser empreende
Começa em mim,
E fora de mim,
Ainda a mim se prende.
A senda mais perigosa.
Em nós se consumando,
Passando a existência
Mil círculos concêntricos
Desenhando.

quinta-feira, maio 25, 2006

anúncio

Vou pôr um anúncio obsceno no diário
pedindo carne fresca pouco atlética
e nobres sentimentos de paixão.
Desejo um ser, como dizer, humano
Que por acaso me descubra a boca
e tenha como eu fendidos cascos
bífida língua azul e insolentes
maneiras de cantar dentro de água.
Vou querer que me ame e abandone
com igual e serena concisão
e faça do encontro relatório
ou poema que conste do sumário
nas escolas ali além das pontes
E espero ao telefone que me digam
se sou feliz, real, ou simplesmente
uma espuma de cinza em muitas mãos

segunda-feira, maio 22, 2006

a chuva caindo...


Já paraste para ouvir a chuva cair
Em gotejo gordo e redondo
Dizendo “estou aqui, estou aqui”…

Em experiência meditativa
Ergo-me por detrás da vidraça
E olho e vejo e sinto
Mais do que isso: Ouço

O som macio afaga-me os sentimentos
De fora para dentro lava-me
E leva-me as agitações necessárias

Semicerro o olhar
E já não somos dois: a chuva e eu
Ingresso no ser líquido
Deixando-me ser
Água e rio e corrente e mar…

Já experimentaste erguer-te ante a vidraça
Para sentires o falar da chuva?

segunda-feira, maio 15, 2006

Sorrio


O sono empurra-me para o fundo...
O sono e a tristeza...
Mas eu luto, luto para me manter acordado, vivo neste mundo desordenado...
Páro e penso. Penso em algumas pessoas, em pessoas que me dão força, que me fazem andar na direcção da felicidade, sempre olhando para a frente, sempre de olhos postos no futuro, com os pés assentes no presente...
Um calor aflora-se-me no peito...
Um calor aconchegante me recorda que vocês existem...
Dou graças...
Sorrio...

quinta-feira, maio 11, 2006

andando por fim...


Consciência, alma,

Recordação triste,

Ansiedade calma

Passado não existe.



Uma nova caminhada,

Sem olhar para trás,

Numa vida cansada,

Sem saber o que se faz.



No futuro o presente,

Esperando junto do medo,

Olhando sempre em frente

Pensando ainda ser cedo.



Assim, se vai na rotina

Esquecendo a missão,

Lembrando a doutrina

Esperança de ilusão.



A vida percorre,

O sonho permanece,

Um dia morre

Outro amanhece.



Assim, se vai indo

Com a ansiedade,

Pro futuro sorrindo

Escondendo a verdade.



Os pés firmes na terra

Erguendo o olhar,

Será que alguém me espera?

Ou, eu é que devia esperar?



É mais uma luta

Perdida dentro da arena,

Esperando uma resposta

Como a vida é pequena!



Mais uma aposta

Aposto em mim,

Mais uma meta

Não lhe vejo o fim.



Tantos caminhos

Por qual andar?

Matando sonhos

Pra não chorar.



Assim, vou andando

Como uma obrigação,

Sorrindo e chorando

Com este pobre coração.

segunda-feira, maio 08, 2006

Brilho

Eu vi uma luzinha a brilhar muito ao longe,
Longe, num descampado...
Brilhava tanto
Que era magia, era encanto...
E apressado,
Quis ir até ao descampado
Ver a luzinha que brilhava tanto...

E lá fui, apressado,
Até ao descampado...

Levei horas, dias, anos...
Tive dores, tive canseiras...
Desci abismos e subi ladeiras...
Atravessei sorrisos, desenganos...
Tudo sofri...
Por tudo passei...
E sempre lá cheguei...

Mas, no descampado,
A luz era uma quimera,
Tinha fugido...
E olhando para trás,
Vi a luz a brilhar do lado donde eu viera...

quinta-feira, maio 04, 2006

ser criança


Jamais deixes de ser criança...


Nunca deixes de sentir, gostar, ver


e extasiar-te diante de coisas tão grandiosas


como o ar, o voo e os sons


da luz do Sol dentro de ti.


Se achares preferível, usa uma máscara


para proteger a criança do mundo.


Mas lembra-te que no dia em que permitires


que essa criança dentro de ti desapareça,


terás crescido e já não estarás vivo."