terça-feira, julho 11, 2006

Tenho visto muitos amores.
Amores mesmo, bravios, gigantescos,
descomunais, profundos, sinceros,
cheios de entrega, doação e dádiva.
Mas que esbarram na dificuldade
de se tornar bonitos.
Apenas isto: bonitos,
belos ou embelezados,
tratados com carinho, cuidado e atenção.
Amores levados com arte
e ternura de mãos jardineiras.
Amores verdadeiros, eternos,
de repente se percebem ameaçados,
apenas e tão somente,
porque não sabem ser bonitos;
cobram, exigem, descuidam, reclamam.
Deixam de compreender,
necessitam mais do que oferecem,
precisam mais do que atendem,
enchem-se de razões.
Sim, de razões...
E ter razão é o maior perigo do amor

quarta-feira, julho 05, 2006


Porquê tanto a uma só pessoa?

A esta e não a outra? E que faço eu aqui?

Num dia que dizem terça-feira? Em casa e não em ninho?

Com pele e não com escamas? Com cara e não folha?

Porquê pessoalmente só uma vez?

E logo na Terra? Junto a uma estrela pequena?

Depois de estar ausente tantas eras?

Para além de todos os tempos e algas?

Para lá do pólipo e da medusa?

E logo agora? Para o sangue e os ossos?

Só comigo em mim? Por que

não mais além ou a cem milhas daqui,

ou ontem ou há um século

sentado e olhando o canto escuro

- tal como de focinho erguido de repente

olha um que rosna e a que chamam cão?